segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A Hermes Trismegisto



E das dúvidas fizeram-se certezas. Da realidade, o sonho. Da vida, a limitação.
Como uma roda-viva, autofagia.
A potência daquilo que nada é, a fragilidade do que é absoluto.
Eis a existência.
Uma passagem fugaz pelas incoerências. O alinhamento do paradoxo.
O existir é movimento e impermanência.
É fluxo e refluxo.
É simetria, matéria e energia.

Por Raphael Ramires

sábado, 1 de maio de 2010

Enigma



Entre mares de perguntas me perco em náuseas.
E ainda, com tantas possibilidades de respostas, afogo-me
farto.
Por que dizer o que é tão óbvio? Por que entregar-me em respostas
rasas que não respondem nada de mim?
Prefiro deixá-los arrastar-me pelo labirinto de suas angustias,
tomados pela aflição do desconhecimento.
E permaneço autêntico e indevassável. Eu e minhas linhas tênues que
quase não separam nada de mim. Eu e as incoerências do meu pensamento.
Não saber é a melhor forma de preservar-se da verdade insuportável 
de ser demasiadamente limitado para entender.

Por Raphael Ramires

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Decifra-me




A simplicidade de minha natureza devora a inteligência da lógica. Ser ou não Ser?
Num mundo tão determinista, identidade e conceito são fundamentais. 
E só existe aquilo que pode ser identificado e determinado. 
CADASTRE-SE nesse catálogo da vida ou não serás reconhecido. 
IDENTIFIQUE-SE e passe. 
Esse é o mundo que me engole por não decifrar-me.
Em minha lógica frágil, concebida facilmente, 
não há coisa que eu não seja.
Mas também não sou apenas porque me disseram. 
Mas por sentir a realidade da natureza de ser. 
Não tenho ous no meu caminho. Por isso Ser e não Ser.

Por Raphael Ramires

Epitáfio



Hoje sou imortal.
Imortal como tudo que construí e que fiz parte um dia.
Deixei nas linhas de tinta e nos gestos prestados um rastro de minha subjetividade. Poesia? 
Não, apenas uma leitura autêntica do significado de existir. Por isso imortal.
E se da leitura constante dos tantos eus deixados nessa vida puder-se ainda deslindar minha alma, então terei existido. Porque existir é algo imortal e abstrato. E só podemos vê-lo quando os olhos nos já tiverem sido tomados.

Por Raphael Ramires

terça-feira, 13 de abril de 2010

Devaneio



Que se façam devaneios meus pensamentos.
Um mar de palavras em correntes de amor, poesia e tormento.
Virando tinta borrada em papel, ideias sordidamente delicadas.
Nesses confusos sentimentos, entre arrojo e simplicidade,
 desmonto minha empáfia, retiro a máscara e me perco em minha própria imagem.
Não reconheço a face limpa, sem as alucinações das palavras e devaneios tolos.
Tudo é superficial, maquiagem para me esconder de mim.
Não quero afundar-me em minha própria essência. Não quero morrer sufocado pela verdade que sempre neguei. Não quero ser eu. Não quero ser. Não quero...
Devolva-me ao caos, ao devaneio de meus pensamentos que nunca param.
Pensamentos que me fazem perder de mim mesmo. Não me encontre nesse caos de tinta. Rasgue o papel. Não leia ou não entenda. Apenas faça.
Mas não me encontre, entre arrojo e simplicidade, despido de empáfia, idade e palavras.

Por Raphael Ramires

Menina de roça



Suave menina, de roça e de saia.
Cresce sem perceber.
Já moça, brincando de roda, só ela
Não quer saber.

São beijos os doces que compra,
E sonhos feitos de mel.
Vestido que dela se rompa,
Brinquedos de cor e papel.

E apenas um beijo roubado,
Furtivo, suave e cantado,
Fará essa doce menina,
Querer um menino encantado.

E quando essa hora chegar,
Um brilho nos olhos terá.
Um amor de fino trato,
De queijo, de roça e de mato.

Por Raphael Ramires

Brisa eu


De sutis enlaces de água e sal,
vão se fazendo ventos em mares.
De brilho doce e imortal,
desdobra-se fresca a brisa em vales.

A sutileza de seus ventos,
No rosto, de leve passa.
Tão delicado alento,
Que brisa, de mim se faça.

Os ventos que inspiro ser,
brisas de vento molhado.
Nas faces que venham bater,
Marcas por terem passado.

Assim me faço,
De água e sal,
De ventos de brisa molhada
E me desdobro imortal,
Em marcas de vidas deixadas.

Por Raphael Ramires

Separação



Doce união, um sonho só.
Téo e Mariza: amor.
Em tom amargo, desfaz-se o nó,
Téo, Mariza e dor.

Por Raphael Ramires

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sutilezas da vida




A beleza da vida está na eternidade,
no paradoxo constante da inconstância,
na morte fugaz de um instante.

O olhar pelas rugas do velho,
a repugnância do esquecimento,
só fazem leitura do tempo.

E tempo não inspira vida,
só marcas de cada momento.

A beleza da vida está na eternidade,
é disto que ela se faz.

Não importa o minuto que seja,
A vida é um eterno caminho
e seguimos nas horas que temos.

 Assim se faz a vida,
em ondas de rugas de tempo;
sutis desenlaces de ventos:
de inspiração,
de recomeço.

Por Raphael Ramires

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Quero ser menino




Quero ser menino e,
em sua tamanha inocência,
Conceber um mundo magicamente simples.
Quero descobrir de novo o mistério das cores, da chuva e do doce de leite.
Quero ter medo de trovões, deitar na cama e pensar que Deus está bravo.

Quero ser menino e jogar bola de gude, cama de gato, pular carniça.
Quero convidar amigos pra dormir em casa, espalhar almofadas, contar piadas, rir até chorar e molhar a roupa.

Quero ser menino e espiar buracos, brincar com bichos, andar pelos campos e nadar pelado.Quero ter preguiça, assistir desenhos de pijama, esquecer de escovar os dentes e sorrir assim mesmo.

Quero ser menino e ter amigos sinceros, fazer aventuras e correr riscos que não existem. Quero ter segredos bobos, idéias absurdas e atitudes infantis.

Quero ser menino e sonhar em ser grande, sem saber que, quando grande for, sonharei insistentemente em ser menino de novo.

Por Raphael Ramires

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Boemia

Tão bela é a luz da lua.
Como sombra de gente à rua.
Em pedra, penumbra e nevoeiro,
damas perdidas, sem roteiro.

Belos encontros furtivos,
Amores estranhos, motivo.
Ao som de sapato e sussurro,
Esconde-se um gato ao muro.

Tão bela é a luz da lua.
Como sombra de gente à rua,
voltando pra casa com graça,
de quem já caçou e foi caça.

Por Raphael Ramires

Meu Rio



Paraíso perdido entre sonhos e bares,
mesclado de tempo, cimentos e mares.
Formidável cenário: tem bonde, tem praça,
no meio de gente que fica e que passa.

A perdição de sabores antigos,
lugar de encontro de amores e amigos.
Uma eterna paisagem, sem rotina, sem pudores.
Tem samba, tem bagunça, tem mulata em varias cores.

E o povo que a ti pertence,
de outra forma que se não pense,
trabalha sem outro igual,
tem bola preta, tem carnaval.

Meu retrato, meu Brasil,
meu Rio tão gentil.
Doce quimera,
amarga fuga,
em prosa leve
que não se muda.

Por Raphael Ramires

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Escolha de cupido



Tão belas curvas,
peito em tonos,
cabelo enfático.

Uma doce criança,
de Pungente vida
em ardor dramático

Dos olhos tão evidentes
de desejo e carência,
uma luz inconfundível,
de perfeita essência.

Uma alma exuberante,
de Bondade e contumácia.
Gestos finos, delicados
de nobreza e muita audácia.

Um talento dedicado,
ombro amigo perseguido.
Faz do peito indolente
Formidável abrigo.

Um amor fremente,
Pueril.

O ardor do sol que nasce,
em cálidos desenlaces,
de flor, desejo e furtivas
possibilidades.

Um amor inconfundível.
Delicada tez, robusta franqueza.
Gestos tontos, desajustados
de olhar marcante, determinado.

A cada descompasso, a cada traquinagem,
uma paixão desmedida.
Uma revelação.
Uma certeza medida.

Amor conquistado
escolhido e mantido
pelo brilho,
essência
e libido.

Por Raphael Ramires


Metáforas do amor





Das metáforas que me encantam a vida,
Sei que é a mais envolvente.
Suave pele em rubor,
Olhar por vez fremente,

Afagos de pelúcia alpina.
Beijos de doce e cor.
É essa a segura medida
que levo de meu amor.

Por Raphael Ramires

terça-feira, 6 de abril de 2010

Menino de Rua



Lá vai o menino de rua,
sempre sujo, magro e faminto.
Não sei olhar, digo o que sinto?
Se casa tivesse e comer pudesse,
tão mau não seria, o menino que via.

Acorda assustado, com medo do dia.
Atrás de comida, andando ele ia.
Pedindo ou roubando ele some,
depende do dia, depende da fome.

Com outros meninos, a tarde ele passa.
Aprende a viver sem lança e sem caça.
O pão que não paga, um dia não basta,
e vai o menino subindo de casta.

Tão jovem e sem força, com arma na mão,
não mais se lhe pode negar com um NÂO.
O medo lhe toma e dispara o que tinha.
Mata sem ver e a polícia já vinha.

O pobre menino levado à gaiola,
não mais sente fome e nem gasta sola.
Tão poucos os anos que tinha,
não via que cedo crescia.

Lá vai o menino de rua,
perdido à estrada sua.
Saiu da gaiola criança,
ficou sua pobre esperança.

E quando a fome apertar?
nem adianta pensar.
Se o pão alguém lhe negar,
desordem grande fará.

Assim vive o menino.
Mais tarde aprende que pode,
do corpo tirar seu dote.
Se entrega com muito pesar,
aos homens que vão sem pensar.

Devoram o menino tão mouro,
depois lhe cobrem de ouro.

Assim vive o menino, de dor.
Vende a pureza na lua,
a cada senhor sem pudor.

Um dia, sei bem que vai,
das ruas sair, sem mais.
Ser o homem que quisera.
Vai-me agora uma quimera.

Por Raphael Ramires

sexta-feira, 26 de março de 2010

Caminho


O caminho que nos leva é sempre ambíguo.
Uma mistura de idas e vindas sem sentido
que às vezes nos faz perder o próprio sentido.
Pode ser largo, estreito, vazio ou em multidões.
Não importa, o caminho é sempre nosso
e estamos sempre sozinhos.
É uma rua escura e de pedras
que de tanto errarmos o sentido,
acabamos por encontrar o caminho certo.
O caminho é da vida, o destino não.
Mas não importa o destino, nele não há sentido.
Sentido apenas existe no caminho
que erramos e que acertamos.
Ora chegando, ora partindo.
O sentido muda,
mas o caminho é o mesmo, o destino é o mesmo.
O sentido é o sentido que escolho,
não há fim a seguir.
Portanto caminho o caminho,
sabendo que o fim é aqui.

Por Raphael Ramires

Poeta


A essência da arte esta naquilo que o artista esconde dentro de si.
desvendar o enigma de um poema é entrar na alma de quem o concebeu.
A atmosfera que molda uma personalidade poética, está no aroma sinestésico das imagens contadas,
no embalo da métrica, na melodia da rima.
Tudo é essência.
Tudo é sentimento travestido em doces palavras inofensivas.
Poesia é dor e êxtase de quem as canta.
É sublimação e encanto
em forma de versos,
de enigma
e cores.

Por Raphael Ramires

Rosa seca


A rosa seca que marca seu livro, marca também minha vida.
No jardim que fora colhida, muitas vezes te esperei.
Um amor pueril, delicado e compassível.
Foi-se perdendo entre distância e tempo.
Hoje é apenas uma rosa, seca e pálida.
Mas quando vista ao livro, reacende em mim a lembrança
De um amor que, como rosa,
Ao tempo foi se perdendo.
Restaram-te pétalas: secas e frias,
Sobraram-me lembranças: doces e inesquecíveis.

Por Raphael Ramires

Perfume


Adoro cheiro de gente.
Cheiro de mulheres elegantes,
De banho de criança e de homens apaixonados.
O perfume confunde minha alma,
Embriaga-me os sentidos.
Nele, mulheres se fazem doce e homens meio amargo.
Crianças são sutis e inexplicáveis.
Cheiro é cuidado.
Talvez sedução.
Não importa.
Adoro cheiro de gente,
O perfume da vida
E das lembranças que guardo.

Por Raphael Ramires

Sou como paisagem



Sou como paisagem,
Indisponível ao toque, lembrança indelével.
Dos olhares que por mim passaram, faço-me desejo e audácia.
Como tempo e paisagem, passo, e, de mim, nada se leva.
Apenas o perfume lançado às janelas em que
Me fiz paisagem.
O vazio da lembrança de um sonho, a dormência do desejo sufocado.
Assim me faço ao peito de quem fui paisagem.
Desmancho-me, pereço-me e desboto.
Um desenho sutil, não comprado.
Não tornado alegria nem ardor de conquista.
Apenas lembrança.
Lembrança pequena,
Rasa,
Delicada.
Daquelas que se esvaem como lágrimas sinceras.
Lembrança pouca pela ligeira presença,
Mas infinita pela dor de ter simplesmente passado.
Assim me faço,
Dos olhares que por mim passaram,
De desejo e audácia.
Indisponível ao toque,
uma lembrança indelével.

Por Raphael Ramires