sexta-feira, 26 de março de 2010

Caminho


O caminho que nos leva é sempre ambíguo.
Uma mistura de idas e vindas sem sentido
que às vezes nos faz perder o próprio sentido.
Pode ser largo, estreito, vazio ou em multidões.
Não importa, o caminho é sempre nosso
e estamos sempre sozinhos.
É uma rua escura e de pedras
que de tanto errarmos o sentido,
acabamos por encontrar o caminho certo.
O caminho é da vida, o destino não.
Mas não importa o destino, nele não há sentido.
Sentido apenas existe no caminho
que erramos e que acertamos.
Ora chegando, ora partindo.
O sentido muda,
mas o caminho é o mesmo, o destino é o mesmo.
O sentido é o sentido que escolho,
não há fim a seguir.
Portanto caminho o caminho,
sabendo que o fim é aqui.

Por Raphael Ramires

Poeta


A essência da arte esta naquilo que o artista esconde dentro de si.
desvendar o enigma de um poema é entrar na alma de quem o concebeu.
A atmosfera que molda uma personalidade poética, está no aroma sinestésico das imagens contadas,
no embalo da métrica, na melodia da rima.
Tudo é essência.
Tudo é sentimento travestido em doces palavras inofensivas.
Poesia é dor e êxtase de quem as canta.
É sublimação e encanto
em forma de versos,
de enigma
e cores.

Por Raphael Ramires

Rosa seca


A rosa seca que marca seu livro, marca também minha vida.
No jardim que fora colhida, muitas vezes te esperei.
Um amor pueril, delicado e compassível.
Foi-se perdendo entre distância e tempo.
Hoje é apenas uma rosa, seca e pálida.
Mas quando vista ao livro, reacende em mim a lembrança
De um amor que, como rosa,
Ao tempo foi se perdendo.
Restaram-te pétalas: secas e frias,
Sobraram-me lembranças: doces e inesquecíveis.

Por Raphael Ramires

Perfume


Adoro cheiro de gente.
Cheiro de mulheres elegantes,
De banho de criança e de homens apaixonados.
O perfume confunde minha alma,
Embriaga-me os sentidos.
Nele, mulheres se fazem doce e homens meio amargo.
Crianças são sutis e inexplicáveis.
Cheiro é cuidado.
Talvez sedução.
Não importa.
Adoro cheiro de gente,
O perfume da vida
E das lembranças que guardo.

Por Raphael Ramires

Sou como paisagem



Sou como paisagem,
Indisponível ao toque, lembrança indelével.
Dos olhares que por mim passaram, faço-me desejo e audácia.
Como tempo e paisagem, passo, e, de mim, nada se leva.
Apenas o perfume lançado às janelas em que
Me fiz paisagem.
O vazio da lembrança de um sonho, a dormência do desejo sufocado.
Assim me faço ao peito de quem fui paisagem.
Desmancho-me, pereço-me e desboto.
Um desenho sutil, não comprado.
Não tornado alegria nem ardor de conquista.
Apenas lembrança.
Lembrança pequena,
Rasa,
Delicada.
Daquelas que se esvaem como lágrimas sinceras.
Lembrança pouca pela ligeira presença,
Mas infinita pela dor de ter simplesmente passado.
Assim me faço,
Dos olhares que por mim passaram,
De desejo e audácia.
Indisponível ao toque,
uma lembrança indelével.

Por Raphael Ramires