sexta-feira, 26 de março de 2010

Sou como paisagem



Sou como paisagem,
Indisponível ao toque, lembrança indelével.
Dos olhares que por mim passaram, faço-me desejo e audácia.
Como tempo e paisagem, passo, e, de mim, nada se leva.
Apenas o perfume lançado às janelas em que
Me fiz paisagem.
O vazio da lembrança de um sonho, a dormência do desejo sufocado.
Assim me faço ao peito de quem fui paisagem.
Desmancho-me, pereço-me e desboto.
Um desenho sutil, não comprado.
Não tornado alegria nem ardor de conquista.
Apenas lembrança.
Lembrança pequena,
Rasa,
Delicada.
Daquelas que se esvaem como lágrimas sinceras.
Lembrança pouca pela ligeira presença,
Mas infinita pela dor de ter simplesmente passado.
Assim me faço,
Dos olhares que por mim passaram,
De desejo e audácia.
Indisponível ao toque,
uma lembrança indelével.

Por Raphael Ramires

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